Isso é tudo muito bonito, mas...

Que tempos para o futebol português. Depois do Benfica ter assinado um contrato que se pensava ser monstruoso (e foi), o Porto e o Sporting conseguem contratos com números ainda mais expressivos que no total atingem valores astronómicos (+/- 1300M de euros no total). Aliados aos negócios por si mesmos, vêm as habituais comparações dos adeptos e media, para tentar perceber quem foi o mais esperto. Apesar de ser uma coisa desnecessária, aqui estão alguns traços básicos:


*o Sporting conseguiu mais 69M pelo aditamento do contrato com a PPTV, aumentando o valor para 515M
Como se pode ver, houve tipos de negócios diferentes, com valores e durações diferentes. Não é isso que está em discussão. O que está é sim que no total, foram atingidos patamares mesmo muito altos, e que o futebol também se livrou um bocado do "reinado" de Joaquim Oliveira. 
Porém, tal como indica no título, isso é tudo muito bonito mas...
O futebol português, falando no conjunto (liga), perdeu uma capacidade de evoluir e capacitar. Não adotar a centralização dos direitos televisivos é algo, que pelo menos por mais 10 anos, vai deixar os ricos mais ricos e os pobres mais pobres. Está bem que o clube de 80/90% dos adeptos de futebol portugueses têm razão para ficar contentes e orgulhosos pelos bons negócios que os clubes fizeram, mas e o resto? Há que compreender que nem todos os clubes têm o poderio negocial e o branding dos três grandes, que conseguem acordos de 400M para cima, nem todos têm a mesma vantagem. Aliás, a grande maioria não tem essa vantagem. 
É um facto conhecido publicamente: há um fosso entre os três grandes (Braga consegue pegar-se) e o resto da Liga. Está bem que há clubes que conseguem fazer boas épocas, mas nada que consiga impor-se a médio prazo no topo. E a questão dos direitos televisivos seria, na minha e na opinião de muitos outros adeptos, o ponto de rutura que daria um impulso aos Moreirenses e Tondelas desta vida (sem querer insultar) e tornaria a Liga NOS competitiva. As grandes ligas europeias (tirando a Espanha, onde o domíno Real/Barça a nível financeiro évidente, que coincidência) têm os direitos centralizados e o dinheiro está melhor distribuido entre os clubes. A BPL é capaz de ser o melhor exemplo. Apesar da diferença de qualidade ser óbvia, há que salientar que o último lugar recebe aproximadamente 80M/época. Isso é o dobro do 1º da Liga Portuguesa. 
Não digo que clubes de baixo não consigam fazer um bom negócio e até ganhar possivelmente mais dinheiro, mas no outro modo a proporção do 1° para o último seria menor.
As percentagens de distribuição na centralização mudam consoante o país. Posição nessa época, posição nas últimas 5 épocas, valor de mercado e número de adeptos, por aí. Utopia. Mais, podia ser adoptada uma centralização em que o dinheiro, aparte das habituais percentagens consoante certos fatores, como a classificação, mas depois oferecia-se mais ao último e por aí fora. No papel pode parecer bizarro, mas na realidade, imaginem: um clube grande consegue ganhar dinheiro em merchandising, receitas de bilheteira, patrocínios, mas como referido antes um clube pequeno não consegue o mesmo, por isso uma compensação, em género de "draft" só que financeiro, daria um impulso necessário para aumentar qualidade de plantel/infra-estrutura e trazer mais gente ao estádio, gerar mais receita e criar um ciclo positivo. Ainda mais utópico.
Infelizmente, há e sempre haverão interesses que falarão mais alto (refiro-me a Benfica e Porto que defendiam a não-centralização dos direitos), portanto evoluírmos como Liga implicará evoluírmos como País, pôr de parte o nosso próprio umbigo e defender a Liga como um todo.
Resumindo, podem esquecer. Bem, ao menos tentámos.



Francisco Pinto

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